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Para além dos muros

 

USP, a Favela e o Muro: Um Reflexo da Desigualdade Social

A Universidade de São Paulo (USP), uma instituição pública de ensino superior, deveria, em tese, ser um espaço acessível a toda a população. Contudo, a realidade brasileira, marcada por uma profunda e histórica exclusão social e econômica, impede que isso aconteça plenamente. As universidades públicas ainda concentram uma parcela significativa de alunos de classes sociais mais elevadas ou de classe média. Na própria USP, os dados revelam uma disparidade gritante: “apesar dos avanços, a porcentagem de alunos negros (autodeclarados pretos e pardos) em cursos de graduação ainda é de cerca de 37% (dados de 2023), e de indígenas é de aproximadamente 0,48%.” Mesmo com a implementação de políticas de cotas, a disparidade social e racial ainda é muito latente, configurando um verdadeiro abismo social.

O discurso da meritocracia soa sedutor, mas como defender a meritocracia em um sistema social absurdamente desigual, com uma história tão tendenciosa e excludente? Essa questão ganha contornos ainda mais visíveis na relação entre a USP e a Favela São Remo, uma comunidade que se localiza nos arredores da universidade. Entre a USP e a São Remo, ergue-se um muro gigantesco, tristemente conhecido como o “Muro da Vergonha”.

Nele, há uma pequena guarita por onde circulam estudantes e moradores, e a distinção entre eles é visível, seja pelas cores ou pelas classes sociais. A guarita, cercada por grades, mais parece uma prisão. Isso levanta um questionamento incômodo: muros e grades para proteger a universidade do povo? Para deixar claro o lugar de cada um? “Historicamente, o muro foi construído na década de 1980, com o argumento de segurança, mas é percebido por muitos como um símbolo de segregação.”

Alguns estudantes mais conscientes também questionam a existência do muro, das grades e a exclusão social que representam. Há algum tempo, em uma iniciativa conjunta com alguns moradores, foram feitos grafites no muro, numa tentativa de dar a ele um aspecto menos carcerário e intimidador. No entanto, muitos moradores ainda se sentem mal e diminuídos por essa barreira física e simbólica. O morador Horácio da Silva, 51 anos, pedreiro, relata que “sempre se sentiu discriminado com a presença do muro e das grades”. A moradora Josélia de Freitas, 25 anos, costureira, fica envergonhada e não sabe explicar aos filhos quando perguntam sobre o muro: “Meus filhos às vezes perguntam e eu não sei o que dizer, fico bastante envergonhada”. “Essa barreira física impacta diretamente o acesso de moradores a serviços e oportunidades dentro da universidade, como bibliotecas e eventos culturais, criando um ciclo de distanciamento.”

Assim, caminhamos em um mundo dos avessos, onde os ricos dominam as universidades públicas de excelência e os pobres, muitas vezes, recorrem a universidades particulares mais acessíveis, mas nem sempre com a mesma qualidade. Um abismo de cores e classes sociais. “Ainda hoje, o debate sobre a integração entre a USP e a São Remo é constante, com iniciativas de extensão e projetos sociais tentando diminuir essa lacuna, embora o muro físico persista como um lembrete dessa desigualdade.” Como diria a frase: “Onde não existe acesso à cultura, a violência vira espetáculo.”

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Editor

Alex Goulart Baseia - Jornalista