Um espaço dedicado à luta pela terra e pelo meio ambiente, em apoio às causas indígena, quilombola, camponesa e popular. Aqui, você encontrará informações diretas sobre lutas e conquistas, além de um espaço para a cultura, o folclore, as tradições, as medicinas e as sabedorias ancestrais desses povos. Este é um ponto de encontro para tod@s que almejam um mundo de liberdade, solidariedade, pluralidade e respeito pelo próximo e por todo o ecossistema. Aprendendo com o passado, atuamos no presente para construir um futuro melhor para todos os seres vivos!

Entrevista com a ativista indígena Vanuza Kaimbé.

O Blog Terra Sagrada tem a honra de entrevistar Vanuza Kaimbé, uma voz poderosa no movimento indígena brasileiro.

Professora formada pela PUC São Paulo, Vanuza é originária da Terra Indígena de Massacará, pertencente ao povo Kaimbé, no município de Euclides da Cunha, Bahia.

Após migrar para São Paulo em busca de oportunidades, ela se uniu a outras lideranças e foi cofundadora da Terra Indígena Multiétnica Filhos Dessa Terra.

Nesta entrevista imperdível, a ativista, guerreira e sobrevivente Vanuza Kaimbé compartilha sua história de vida, sua luta e o papel essencial da mulher indígena na sociedade. Não perca os detalhes dessa jornada inspiradora!               

               “ O que acontecerá com a terra acontecerá com os filhos da terra” Chefe Seattle.

  1. Como a sua história, desde as raízes do povo Kaimbé na Bahia, se fundiu com a sua jornada pessoal, e de que forma essa trajetória a trouxe até Guarulhos e ao trabalho com os ‘Filhos da Terra’ ?

 Vanuza: Eu sou Vanuza Kaimbé uma indígena do povo Kaimbé Oriunda do estado da  Bahia, da aldeia de Massacará do município de Euclides da Cunha,a segunda aldeia mais antiga do estado da Bahia.Cheguei em São Paulo em 1988 em busca de trabalho com intenção de estudar, fazer curso de enfermagem e retornar para a aldeia de massacará, para minha aldeia mãe. E acabei ficando, vivendo e trabalhando , entrei no movimento de bairros como liderança comunitária e logo após no movimento indígena. Morei em Santo amaro, em ermelino matarazzo e a 8 anos que vim para a aldeia filhos dessa terra( guarulhos) vim a convite de duas lideranças o  meu primo, Alex Werá e Gilberto Awa Tupi guarani, que já conhecia pois já tinha trabalhado na saúde indígena como técnica de enfermagem, trabalhei lá por quase 10 anos e a convite dele eu vim para cá, pois era técnica de enfermagem e já estava terminando a faculdade. Aí parei , tranquei e fui fazer serviço social. E vim pra cá por ser uma liderança e ser da área da saúde e pra fazer esse trabalho na aldeia, trazer qualidade de vida trabalhar na causa, construir  posto de saúde, escolas e eu me enquadro como essa profissional para desenvolver esse trabalho e fui uma das co-fundadora da aldeia.

 

   2.  A aldeia Filhos da Terra, em Guarulhos, é conhecida por abrigar diversos povos. Na sua perspectiva, qual a maior força dessa união entre diferentes etnias? E quais os desafios mais significativos que vocês enfrentaram, e continuam enfrentando, para manter essa comunidade existindo ?

 

 Vanuza :Um lugar muito íngreme , o acesso difícil, agora já melhorou, já construímos uma estrada, já tem acesso a carro até o centro cultural, no começo foi muito difícil cheguei a quebrar o tornozelo e o dedo e tive que me afastar um tempo da aldeia para me recuperar, temos muitos sonhos e nunca parei de visitar minha aldeia mãe. Massacará. Sempre quando posso vou para lá e vem pessoas de lá para cá nos visitar, enfim  vivemos em conexão, essas estradas foram feitas pelos colonizadores quando aqui chegaram, não fomos nós que inventamos essa divisão de estados e fronteiras,  antes de ser o Brasil da coroa era o Brasil do cocar, do maracá e terra de pindorama.

 

3.Como sua rotina na aldeia se reflete no seu trabalho como professora, e de que forma a escola indígena que você leciona promove a cultura e os valores do povo Kaimbé?

Apresentação em escola de São Paulo

Vanuza :  A Aldeia filhos dessa terra é uma aldeia multiétnica foi idealizada pelo parente  Gilberto Awa tupi Guarani, vindo do estado de São Paulo, da aldeia Bananal, uma das aldeias mais antigas do Estado de São Paulo, e ele foi convocando as lideranças, chamando, dizendo que, para formar uma aldeia em busca de políticas públicas, moradia, essa aldeia para existir foram 20 anos de luta pra gente vir para c[a e mesmo assim as políticas públicas poucas chegaram aqui. Mas nós estamos sempre na Luta, aqui tem os : Kaimbé, Pankararé, Pankararu, Timbira, Guajajara,Xucuru de iorubá e outras etnias que agora não me lembro de todas, tem tupi Gavião vindo do  maranhão, uma grande diversidades de povos indígenas que vieram pra cá. Aqui a força maior é de mulheres, nós somos o maior número, quando fazemos serviço braçal de cavar barro, de construir, de rastelar, limpar  e carregar peso você vai ver 3 homens  e 5 ou 6 mulheres. Aqui a única coisa que não faço é subir em telhado, pois tenho medo de altura, mas o restante, pegar carrinho de barro, carregar madeira para construir, carregar materiais de construção é maior parte feito pelas mãos das mulheres. Aqui temos muita dificuldade, as políticas públicas não chegam, nossa expectativa é de um dia construir nossas moradias, pois o projeto são de 50 moradias, ter serviços aqui, pois tem um potencial gigante para turismo, estamos do lado do aeroporto internacional, as pessoas podem vir visitar, nós temos nascentes, água potável árvores nativas e tem muita diversidade de canto, cultura, comidas típicas, aqui tem um potencial gigante para se desenvolver a divulgação da cultura e a qualidade de vida e todos podermos viver daqui. sem sair para trabalhar fora, construir escolas, creches, ubs e um potencial gigante para o turismo consciente e ambiental, guarulhos é uma cidade linda, muitos vivem aqui em guarulhos como dormitório, pois precisam ir para outras cidades  para trabalhar, sendo que muitos poderiam trabalhar aqui com turismo com a cultura, com a valorização da nossa cidade. Outro dia estava indo para Brasília e no aeroporto perguntei como se fosse turista, qual o espaço que tem para o turista aqui, qual o cartão postal e a resposta que tive é que não tem . apenas algumas lojinhas de roupas e presentes, mas nada diferente que conte a história de Guarulhos, falta vontade política, falta investimento faltam as secretarias municipais e estaduais de turismo investir  no potencial que somos nós da Aldeia Filhos dessa terra e outras culturas riquíssimas que poderiam servir de inspiração criação de renda e qualidade de vida para todos nós que vivemos em guarulhos, pois nós indígenas não pensamos apenas em nós mas na sociedade como um todo. queremos o bem viver para todos.

 

4.Qual a importância dos rituais e das atividades culturais da aldeia Filhos da Terra, e como vocês conciliam a preservação da herança ancestral com a abertura e o diálogo com a população em geral?

Vanuza com parente na aldeia de massacará

Vanuza : O povo Kaimbé é um povo de muitos sonhos, e que tenta viver de uma forma independente, livre , de uma forma coletiva, sempre buscando sua autonomia. Mesmo não tendo nenhuma oca construída, pois a que tinha se se desmanchou,mas fomos o primeiro povo a construir uma Oca aqui na Aldeia, uma Oca pequenininha tradicional, mas aí mudamos ela de lugar e depois construímos outra, e com a forte chuva do ano passado se desmanchou. Mas nós estamos aqui. temos um cursinho pré-vestibular e também para concurso, para jovens , adultos, quem quiser. Mesmo o foco sendo para os mais jovens e aberto também para a comunidade local. Acontece todos os sábados, tem professores voluntários que vem dar aulas e funciona em espaço aberto. E se chover corremos para alguma casa. algum abrigo mas não deixamos de partilhar o conhecimento pelo fato de não termos uma escola estruturada para receber os alunos e os professores que aqui dão aula. E temos nosso de construir nossa Oca, que já está em construção de construir uma cozinha comunitária, pois a que tem fica bem embaixo e precisamos de uma próxima para alimentar os nossos jovens, que tomo café da manhã e almoçam e por enquanto é feito na casa de uma parente. que faz a comida pra todos, uma parente Kaimbé, mas nós sonhamos em fazer essa cozinha comunitária e fazer a sala de aula, para ter uma conforto, uma estrutura com sala de aula , banheiro etc….  E alguém que ler essa entrevista quiser contribuir , ajudar no projeto, doar material de construção, material escolar, material para a cozinha comunitária, fogão, geladeira será muito bem vindo. E aí fazemos alguma compensação nas redes sociais, alguma plaquinha na aldeia em agradecimento. Esse parceiro contribuiu com a construção dos espaço cultural de convivência do povo Kaimbé na aldeia Filhos dessa Terra em guarulhos;Aqui também tem jovens que trabalham através do projeto jovens aprendiz Indígena que nós Kaimbé participamos e jovens que estudam na faculdade da PUC São Paulo, pelo projeto Pindorama eu me formei também, bolsista,  pelo projeto Pindorama PUC São Paulo, nós estamos aí , onde tem políticas públicas o povo Kaimbé está presente e chegamos para acrescentar, pra ter uma troca. A gente aprende na Universidade e leva nossa cultura, nossa presença, nossos saberes ancestrais, fazemos essa troca, damos e recebemos. Nós não fomos apenas pegar o conhecimento, nós também levamos o conhecimento. Aqui fazemos nosso rituais e abrimos para o povo em atividade mensais em outubro desse ano teremos o aniversário da aldeia com seus 8 anos e será aberto a todos no dia 24, 25 e 26 de outubro de 2025.  Co, comidas típicas. cantos, danças, trilhas e muita diversidade de cultura e comida boa venha para comer nossa comida típica, que será paga, mas para aqueles que não tem condições sempre teremos um feijão um arroz para que ninguém passe necessidade e nós partilhamos nosso alimento. A ideia é que cada povo tenha seu espaço, sua estrutura e sua cultura preservados. Somos uma aldeia unida que lutamos unida, mas cada povo tem a sua cultura e sua autonomia. 

 

  1. Deixe uma mensagem final para todos que estão lendo essa matéria .

 

Vanuza : Como sou assistente social vejo que estamos todos no mesmo barco, somos todos das periferias e enquanto as políticas públicas não chegam,  fazemos a festa junina no estacionamento compartilhando com a população local, pois aqui não tem uma festa junina, quando posso faço dia das crianças, compartilhada , esse ano vamos fazer com as crianças indígenas e não indígenas, estamos buscando parceiros para vir aqui, fazer doces e para brincar com as crianças aqui no dia 11 de outubro, estamos sempre agregando a comunidade, pois estão na mesma que nós, nas mesmas dificuldades de políticas públicas, aqui não tem lazer , esporte, cultura para a periferia, onde tem pessoas nós indígenas procuramos compartilhar e viver em harmonia com a população em gera.l Essa foi a Vanuza kaimbé, liderança, mulher, 55 anos ativista, assistente social uma mulher que realmente luta pelos direitos humanos por políticas públicas e para um bem viver pra todos/as E se você gostou desse pequeno relato venha aqui, me siga nas redes sociais. O instagram está logo abaixo. Compartilhe essa entrevista E chame seus amigos e familiares e venha conhecer a aldeia indígena multiétnica Filhos dessa terra no Cabuçu em Guarulhos Esperamos vocês aqui, até breve.

 

Vanuza Kaimbé (@vanuzakaimbeoficial)

 

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Editor

Alex Goulart Baseia - Jornalista