Um espaço dedicado à luta pela terra e pelo meio ambiente, em apoio às causas indígena, quilombola, camponesa e popular. Aqui, você encontrará informações diretas sobre lutas e conquistas, além de um espaço para a cultura, o folclore, as tradições, as medicinas e as sabedorias ancestrais desses povos. Este é um ponto de encontro para tod@s que almejam um mundo de liberdade, solidariedade, pluralidade e respeito pelo próximo e por todo o ecossistema. Aprendendo com o passado, atuamos no presente para construir um futuro melhor para todos os seres vivos!

MARÇAL GUARANI,PRESENTE

MARÇAL GUARANI,PRESENTE

TUPÃ-Y, mais conhecido como Marçal de Souza, nasceu em Rincão Júlio, Ponta Porã-MS, no dia 24/12/1920. Fazia parte da etnia guarani-nhandeva. Ficou órfão muito cedo e foi adotado por uma família presbiteriana. Foi viver no Recife nos anos de 1940 onde trabalhou em obras em troca de comida. De volta ao MS foi contratado como professor de guarani.

A partir dos anos de 1970, Marçal passou a denunciar violências praticadas contra o seu povo: exploração sexual de crianças guaranis, expropriação de terras, ameaças entre outras. Desde então, sofreu ameaças contínuas de madeireiros e latifundiários da região. Viveu em várias cidades por conta das ameaças.

Nos anos de 1980, Marçal intensifica a luta em defesa dos povos guaranis. Encontrou-se com o Papa João Paulo II oportunidade que teve para denunciar a violência contra os povos indígenas. No encontro MARÇAL falou “Este é o país que nos foi tomado. Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto, não, Santo Padre, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Esta é a verdadeira história”.

A fala de Marçal teve bastante repercussão no mundo. Consequentemente, as ameaças se tornaram mais frequentes. MARÇAL foi espancado várias vezes por policiais e jagunços a serviço dos latifundiários da região. Pressentindo a sua morte, chegou a afirmar que: “Eu sou uma pessoa marcada para morrer. Mas por uma causa justa a gente morre. Alguém tem que perder a vida por uma causa”!

Em 25 de novembro deste mesmo ano, MARÇAL foi assassinado em sua casa, na aldeia campestre. Os mandantes do crime, Líbero Monteiro, filho de Astúrio Monteiro de Lima, e Rômulo Gamarra, foram absolvidos. Postumamente, Marçal de Souza foi condecorado como Herói Nacional do Brasil.

 

 

 

   OS INDÍGENAS SÃO OS ÚNICOS COMUNISTAS DO BRASIL

O título acima vem de uma afirmação de Daniel Munduruku (1964) um escritor, professor e ativista da etnia Munduruku. E ele está corretíssimo. Há séculos, os povos das florestas praticam e vivem o que o mundo ocidental conhece, combate ou almeja como Comunismo.

A maioria dos povos da floresta não conhece a noção de propriedade privada e nem de estado. Tudo o que comunistas, anarquistas e utópicos almejaram e almejam.

O que estes povos fazem é resistir ao imperialismo, ao projeto destrutivo da sociedade ocidental liberal, de classes e consumista que não aceita diálogo, nem trocas culturais justas.

Desde os tempos coloniais que o comunalismo originário é observado nos povos ditos “primitivos”. O padre Vieira já afirmava que os indígenas não tinham nem Fé, nem Lei e nem Rei. Muitos europeus se impressionaram com a ordem e a solidariedade entre os grupos indígenas. Outros viam nessa “ordem natural” o mal e o pecado.

UM BREVE HISTÓRICO.

A República de Ibiapaba foi criada no século 17. Reunia índios tabajaras, potiguaras e povos do interior numa comuna nas serras do interior do Ceará. Estes índios escapavam do avanço europeu, como também procuravam se organizar e viver sua cultura em paz.

Ainda no século 17, a Confederação dos Cariris reunia dezenas de povos indígenas do interior da PB, PE, CE e RN com o intuito de lutar contra o avanço português para o interior. Lideranças históricas como Janduí, Piancó e Canindé resistiram bravamente ante o avanço europeu.

No século 18, Mandu Ladino, um Arani, liderou uma revolta entre 1712 e 1719 no interior do Piauí. Os povos indígenas

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Os confederados liderados por Mandu Ladino também se organizaram em um sistema de aliança entre povos de culturas diferentes.

No século 19, indígenas lutaram e participaram de eventos revolucionários como a Cabanagem e a Balaiada. Em Pernambuco, originários participaram das guerrilhas da Revolução Praieira. Na vizinha Paraíba, os caboclos de Fagundes e Campina Grande participaram e lideraram as ações durante a Revolta do Quebra Quilo.

Na Bahia, durante o movimento de Canudos, caboclos sertanejos fizeram parte da experiência comunalista messiânica que venceu o exército brasileiro muitas vezes antes de ser massacrada.

Muitos militantes anarquistas do início do século 20 tinham ascendência indígena. Manuel do Ó e Octávio Brandão tinham ascendência Caeté. Muitos caboclos sertanejos fizeram parte da Revolta da Matta, no Maranhão, sob a liderança do tolstoiano Manoel Bernardino, na década de 1920. Na década seguinte, nos anos de 1930, José Praxedes, indígena potiguara, foi um dos líderes da Intentona Comunista em Natal-RN.

Na década de 1950, os Kaiowá do MS se juntaram ao PCB da região. Entre a década de 1960 e de 1970, a Liga Camponesa de Pesqueira foi criada pelos chamados Caboclos Comunistas. Na década de 1960 e de 1970, Taiguara, descendente de índios charruas, foi um dos mais combatentes compositores da MPB contra a Ditadura Militar.

Na década de 1980 o movimento indigena se fortaleceu e vários militantes ganharam visibilidade internacional: Raoni, Marciel Tupã, Eliane Potiguara, Ailton Krenak, Tuíre, entre outros. Na década de 1990, Galdino Pataxó foi queimado enquanto dormia em uma parada de ônibus em Brasília.

Na mesma década, a luta dos Xucurus se intensificou em Pesqueira-PE. O assassinato de Chicão Xucurú, em 1998, repercutiu mais no exterior do que no próprio Brasil.

No século 21, durante o governo Bolsonaro, diversos casos de invasões de terra, perseguições, violações de direitos indígenas, epidemias de fome e assassinatos de militantes indígenas foram registrados.

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O caso de maior repercussão foi o assassinato de Paulo/Paulino Guajajara, em 2019. Paulino foi um guerreiro guajajara, militante e defensor das terras de seu povo contra a invasão de madeireiros e grileiros.

Apesar desse aumento da violência contra os povos indígenas, inúmeros militantes de diversas etnias continuam lutando em diversas frentes de batalha: literatura, política, redes sociais, música, movimentos sociais: Kaká Werá, Olívio Jekupé, Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Txai Sarui, Sônia Guajajara, Marcos Terena, Davi Kopenawa, Cristino Wapichana, entre outros.

A luta segue. A luta sempre seguirá!

JR. KARLLOS.  “ANTICOLONIAL E LIBERTÁRIO”
CAMPINA GRANDE- PARAÍBA- NORDESTE- MUNDO
AGOSTO 2025 / N.04

 

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Editor

Alex Goulart Baseia - Jornalista