Um espaço dedicado à luta pela terra e pelo meio ambiente, em apoio às causas indígena, quilombola, camponesa e popular. Aqui, você encontrará informações diretas sobre lutas e conquistas, além de um espaço para a cultura, o folclore, as tradições, as medicinas e as sabedorias ancestrais desses povos. Este é um ponto de encontro para tod@s que almejam um mundo de liberdade, solidariedade, pluralidade e respeito pelo próximo e por todo o ecossistema. Aprendendo com o passado, atuamos no presente para construir um futuro melhor para todos os seres vivos!

O PRINCÍPIO E O PÁSSARO

– O princípio é o seguinte: a vida está terminando. Percebo a necessidade de mudar, mas quem acreditaria em minha mudança, com essa idade? E me pergunto, todos os dias sem cansar, se posso fazer alguma coisa diferente. Digamos que sim, mas aí o problema se torna ainda mais grave porque precisaria ser algo bem diferente…muito diferente…arriscadamente diferente. O impasse me trouxe o choro, ainda bem que eu estava sozinho em casa, foi aí que descobri que a água do chuveiro bloqueia as lágrimas.

Mas não posso ficar permanentemente sob as gotas do chuveiro. Você é psicanalista o que me diz? Minha vida até o momento foi mudar, mudar, mudar…Mudei de faculdades, mudei de parceiras, casamentos foram cinco. Mudei de filhos. Não entendeu? Dois deles não falam comigo, então a paternidade nesses casos mudou. Você não vai falar nada?

Acho que estou perdendo tempo, perdendo a vida com você, e… a vida está terminando.

Diz qualquer coisa, por favor.

– Prefiro uma noção do tempo diferente dessa que você mencionou, fico com o tempo

do inconsciente, um tempo atemporal onde passado, presente e futuro se entrelaçam e interferem no presente.

– Seja o tempo que for pouco importa, a vida… a vida está terminando e eu preciso mudar. Recomeçar significa alimentar a vida, nutri-la, adiar seu término, entendeu?

Eu vi um pássaro criando penas, reforçando asas, bico e olhar, um pássaro inventando vida a cada amanhecer, no início junto a seus pais, logo em seguida sozinho, ele, o Sol, o vento, a chuva, a Lua. O que me incomodava o tornava forte. Um dia ele parou, levou sua vida e me entregou um mistério.

Está me entendendo?

Duvido, vocês, psicanalistas, são pessoas frias, mas faça força e tente entender. Um pássaro, existe vida mais complexa, mais misteriosa que a vida de pássaro?

Eles voam, cara, eles voam, coisa que nós jamais conseguiremos, importante pensar nisso: o pássaro é mistério.

Você vê contradição quando digo que a vida está terminando e chamo isso de princípio? Como o fim pode ser o princípio?

– Você falou em mudança, quem sabe esse fim signifique outros caminhos. O pássaro segue caminhos ou cria mistérios? Você já leu ou ouviu algo sobre os arquétipos? Jung identificou 12 arquétipos, entre eles O Explorador, possuidor de um espírito aventureiro, permanentemente curioso e insatisfeito, por isso procura novas formas de viver e sentir.

O pássaro que você acompanhou vamos chamá-lo de Explorador, era ao mesmo tempo imagem e emoção. Você se pergunta por onde anda o pássaro? Pode responder.

– Claro que gostaria de saber. Você não tem curiosidade?

– Prefiro acreditar que esteja por aí, voando, vivendo, levando a outras pessoas o que deixou com você. O princípio é o seguinte: a vida está sempre começando, e observar um mistério, o pássaro que você acompanhou, é algo arriscadamente diferente. Semana que vem podemos continuar daqui.

Autor : Luiz Horácio, psicanalista e escritor.

@luizhoraciopsicanalista

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Editor

Alex Goulart Baseia - Jornalista