Um espaço dedicado à luta pela terra e pelo meio ambiente, em apoio às causas indígena, quilombola, camponesa e popular. Aqui, você encontrará informações diretas sobre lutas e conquistas, além de um espaço para a cultura, o folclore, as tradições, as medicinas e as sabedorias ancestrais desses povos. Este é um ponto de encontro para tod@s que almejam um mundo de liberdade, solidariedade, pluralidade e respeito pelo próximo e por todo o ecossistema. Aprendendo com o passado, atuamos no presente para construir um futuro melhor para todos os seres vivos!

Quilombo Araucária: Um novo amanhecer

Quilombo Araucária: Onde a Esperança Floresce na Selva de Pedra

No coração pulsante da megalópole de São Paulo, onde o concreto muitas vezes sufoca a esperança e a poluição do ar desafia a respiração, surge um oásis de resiliência e transformação. Na comunidade do Umarizal, no bairro de Campo Limpo, Zona Sul da capital paulista, um grupo de moradores está provando que é, sim, possível sonhar e construir um futuro mais verde e humano.

Em uma das últimas e preciosas áreas verdes da região – outrora abandonada, devastada e sufocada pela degradação –, filhos e filhas guerreiros da comunidade ergueram-se. Com uma luta incansável e perseverança admirável, eles resgataram esse espaço quase sem vida, transformando-o no vibrante Quilombo Araucária. Hoje, este local não é apenas um refúgio de biodiversidade que protege animais silvestres, mas um centro pulsante de cultura, lazer e rica tradição popular. É um lugar onde crianças podem voltar a sorrir livremente e onde o medo, antes dominante, cede lugar à revitalizante esperança.

Resgate Cultural e Ambiental: A Semente do Sonho

O princípio desse movimento inspirador é contada por Quinho Alencar, artista plástico, grafiteiro. músico e um dos membros ativos do Quilombo Araucária. Ele revela que a ideia floresceu a partir da pesquisa de seu irmão, Igo. Ao investigar a história do bairro, repleta de ruas com nomes indígenas, Igo percebeu que aquele era, em tempos remotos, um território historicamente habitado por povos indígenas e comunidades quilombolas. Essa descoberta acendeu a chama de um profundo desejo de resgate cultural, conectando o presente às raízes ancestrais e históricas da região.

A escolha da área verde não foi por acaso. Era um dos poucos pontos do bairro que ainda abrigava uma rica flora, com plantas e árvores centenárias como a majestosa Araucária – que empresta seu nome ao quilombo – e uma diversidade de animais silvestres. A preservação dessas áreas naturais tornou-se um pilar fundamental do projeto.

“Atualmente teremos  legalização oficial do espaço com a festa Julhina , daí pra frente a inauguração oficial do espaço. E agora com tudo legalizado teremos muitos projetos e trabalhos sociais junto a comunidade e organizações sociais e ambientais, trabalhos com escolas e eventos diversos em prol da cultura e do lazer da comunidade. Aulas culturais de capoeira, arte em geral, oficinas de tambores e percussão em geral. Ainda estamos no sistema de organização, mas brevemente todos esses projetos estarão ocorrendo e aberto a todos os populares e a todos que se solidarizaram com a luta pelo meio ambiente  e socialização cultural para os moradores. É um pequeno pedaço de natureza com muita energia, cultura, crianças e muitos trabalhos culturais para todos.” Quinho Alencar.

Quilombos Urbanos: Resistência e Autodeterminação

O Quilombo Araucária personifica a crescente importância dos quilombos urbanos no cenário brasileiro. Longe da imagem tradicional de comunidades rurais isoladas, esses quilombos na cidade representam focos de resistência cultural, social e ambiental em meio ao adensamento urbano. Eles são espaços de reafirmação identitária, memória e luta por direitos, incluindo o acesso à terra e a preservação de seus modos de vida e tradições. Em São Paulo, onde a especulação imobiliária e a carência de áreas verdes são desafios constantes, a criação e manutenção de um quilombo urbano como o Araucária é um ato de autodeterminação e reinvenção social.

Do Conformismo à Transformação: A Força da União

Enquanto muitos se resignam às dificuldades da vida na metrópole, aceitando-a com desânimo e reclamações, os membros do Quilombo Araucária escolheram um caminho diferente. Eles não se renderam. Em vez de lamentar a realidade, optaram por transformá-la. Sua atitude proativa é um testemunho poderoso de que, com união, perseverança e uma visão compartilhada, é possível forjar um mundo novo.

As palavras do líder libertário Buenaventura Durruti, “Não tememos as ruínas pois há um mundo novo em nossos corações”, ecoam com profunda ressonância no esforço desses guerreiros/as. O Quilombo Araucária não é apenas um espaço físico; é a materialização de um sonho coletivo, uma prova viva de que a esperança e a ação podem, de fato, gerar um futuro mais justo, verde e feliz, mesmo na implacável selva de pedra.

 


 

Apresentação:

Sou Igo Santos, quilombola (contexto urbano), ativista social, professor, músico… Sou morador da comunidade Jardim Umarizal há 40 anos, chegando ao território no ano de 1984, quando a região ainda era repleta de áreas verdes e uma rica biodiversidade. Com o passar do tempo, lugares onde acampávamos, colhíamos frutos dos pés e vivíamos conectados com a natureza e o meio ambiente foram desaparecendo. Com o crescimento de nossa região, as áreas verdes foram sendo devastadas para construção de grandes edifícios e construções, removendo mais de 80 por cento das matas que tínhamos em nossa comunidade, fazendo com que animais como tucanos, araras, cobras, macacos, sapos, pererecas e muitas plantas nativas fossem dizimados do local, e que foi se apagando com o tempo. Hoje, nossas crianças e jovens não sabem do histórico lindo de nossa comunidade que vemos cada vez mais ser apagada diante do tempo.

Quilombo Araucária. Quilombo Araucária é um nome dado por moradores antigos do Jardim Umarizal, bairro localizado no subdistrito do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. O nome dado para o espaço foi pensado em homenagem à população negra e periférica, ainda nos tempos de hoje massacradas pelo sistema racista, capitalista e opressor em qual vivemos, que até nossos dias atuais encontra dificuldades para entender que quando falamos de quilombo (Lar, comunidade) estamos ressignificando o histórico de resistência e de luta da população negra e periférica em nosso país, pois se chamamos de parque, praça ou bosque, tudo bem, mas quando falamos de aldeia ou quilombo ainda causa espanto, ódio e discordância entre muitas pessoas, que não se dão conta de quão racistas e preconceituosos são esses pensamentos ocidentais, de ignorar, negar e tentar apagar nossos conhecimentos, cultura, saberes e nossa forma afro-indígena de se relacionar com o mundo, relacionando-as com tudo aquilo que é de ruim, uma herança que mantemos da caixinha ocidental racista, machista e patriarcal. Araucária, homenagem a seis árvores Araucárias nativas do sul do Brasil que nos fornecem o pinhão, popular em festas juninas, uma árvore em extinção, e hoje tombada como patrimônio nacional, nas quais seis araucárias foram assassinadas pelo fogo que atearam nelas no Quilombo. A disputa e a fome voraz de construtoras por terras e lucros (especulação imobiliária) vem devastando toda área verde de nossa cidade e expulsando milhares de famílias pertencentes à classe trabalhadora de suas casas para obtenção de lucros e poder, isso em nosso país e no mundo, não se preocupando com os impactos globais que o desmatamento causa em nosso planeta entre animais, vegetais, rios, mares, inclusive com a nossa própria existência. No local seis árvores Araucárias foram vítimas da crueldade e da ganância humana, onde duas morreram após atearem fogo em uma cortada propositalmente, pois quem cometeu o crime sabia da importância delas para proteção da última área verde que temos no Jardim Umarizal. A única que resistiu também terá que ser derrubada devido à queimada que foi tomada por cupins que destruíram seu tronco por dentro e que agora pode cair a qualquer momento. Após a maldade intencional (crime) ocorrida no local que fez com que macacos (saguis) saíssem de seu habitat, o antigo Círcolo Italiano, a saírem pelas ruas do bairro à procura de água e alimentos. Alguns morreram eletrocutados andando pelos fios elétricos dos postes do bairro, segundo moradores dos condomínios próximos ao local. Após esse ocorrido, onde não adimiti esse crime gravíssimo contra a natureza e o nosso meio ambiente (e irmos contra a natureza é irmos contra nossa própria existência), iniciei um processo de estudo do território para saber qual o histórico do território, qual o proprietário e o porquê do abandono total de um espaço fundamental para o nosso bairro e outras comunidades ao seu entorno. Busquei o zoneamento do território pelo GeoSampa. O que é GeoSampa? (O Portal GeoSampa é um portal que segue as diretrizes do Plano Diretor Estratégico, reunindo dados georreferenciados sobre a cidade de São Paulo, dentre eles cerca de 12 mil equipamentos urbanos, rede de transporte público, mapas geotécnicos e importantes dados sobre a população, como densidade demográfica e vulnerabilidade social). Então, via que a área está zoneada como área ZEUP (que são porções do território em que o município promove usos residenciais e não residenciais com densidades demográfica e construtiva altas, além disso, promove a qualificação paisagística e os espaços públicos de modo articulado à implantação do sistema de transporte público coletivo).

Após o processo de estudo do território, montamos uma equipe técnica junto a lideranças das comunidades ao entorno do Quilombo (Jardim Rebouças, Jardim Umarizal, Jardim Das Palmas e Olaria), para mutirões comunitários e reuniões para discutirmos o que poderia ser pensado democraticamente de forma coletiva, quais atividades poderíamos levar ao Quilombo. O local estava repleto de lixos, entulhos e bichos mortos, de onde conseguimos remover 9 caminhões de lixo, os quais a prefeitura de São Paulo removeu do lado de fora do espaço, pois não podiam remover de dentro do espaço. No início de nossa ocupação toda limpeza e cuidados do espaço foram dados por usuários de crack, moradoras e moradores em situação de rua, os quais chamamos de agentes ambientais, moradoras e moradores das comunidades Jardim Umarizal, Jardim Rebouças, Jardim das Palmas e outras comunidades. Foram 1 ano e oito meses de luta coletiva para deixar o local como hoje se encontra, atraindo também a presença de moradores do condomínio Araucárias, que fica atrás do Quilombo. O local possui mais de 80 espécies de plantas, árvores frutíferas e nativas em uma área com uma média de 9.000 metros quadrados.

Contatos Quilombo Araucária : https://www.instagram.com/quilomboaraucaria_/

É fundamental ressaltar a participação e a presença constante da organização Luta Popular. Eles sempre estiveram presentes, reforçando a luta de forma firme e forte nesta caminhada.

Link do luta popular, instagram : https://www.instagram.com/lutapopularnacional/

 

Foto de Editor

Editor

Alex Goulart Baseia - Jornalista